De cima de sua cama o pequeno menino se encolhia nervoso contra a cabeceira, olhando fixamente para o vão inferior da porta, como se dali fosse saltar a mais incrível de suas fantasias. Seus olhos esbugalhados e ansiosos relutavam para não piscarem, medrosos de perder qualquer detalhe. A boca contraia-se contra os dentes e abria-se somente para recuperar o ar que lhe faltava em intervalos periódicos. Os pés minúsculos voltados para dentro comprimiam o travesseiro macio. Seu tronco pequenino encolhia-se sobre as mãos que, apoiadas nos joelhos, agarravam o lençol listrado inexoravelmente, marcando-o com seus sulcos delicados.
A espera lhe torturava o coração. Conseguiria sobreviver àquela espera? Por que é que ela não chegava? Não teria sentido o mesmo que ele? Impossível! Lembrava com exatidão, como se fosse o momento mais fantástico que tivera vivido, quando se encontraram pela primeira vez... Não é possível que somente ele havia sentido... Ela também deveria ter sentido, ele sabia que sim... Ela sentiu, claro que sentiu! E também deve estar ansiosa para reencontrá-lo hoje, o dia tão esperado. Mas por que demorava tanto? Por que é que ela não chegava?
O coração palpitava forte. Sentia-se cansado; seria mais fácil se tivesse corrido milhares de quarteirões sem descanso. O pulmão não era grande o bastante para respirar todo o ar que necessitava naquele momento. O corpo tremia por inteiro numa sensação indescritível de descontrole e rebeldia...
E então um estalo na porta denunciava que finalmente haviam chegado, ela havia chegado! Agora ele deveria ir até ela e mostrar tudo o que sentia, dizer que sentia saudades, abraçá-la e... Mas sequer respirava, permanecia estático, sem ação, sem coragem... E em seu pequeno conflito interno ele permanecia, enquanto a ouvia se aproximando lentamente... Enquanto vivia a sensação de finalmente tê-la ali... Enquanto escutava o doce som que ela fazia quando andava pelo assoalho do corredor... Enquanto saboreava a sensação de finalmente ter sua primeira bicicleta!